VIAGENS DE ESTUDO


A graduação

Quando dou por mim estou novamente no interior de um avião a caminho da Coreia do Sul.

O ponto de encontro com dois alunos do Chile seria na cidade de Seul, onde iriamos ficar por alguns dias a treinar em diversas escolas locais e aproveitar para fazer um pouco de turismo. Após o nosso reencontro traçamos o plano para os próximos dias.

Os objetivos passavam por participar mais uma vez no prestigiado curso de mestres de Hapkido da KHF que se realiza anualmente no mês de Maio, e aí candidatarmo-nos a realizar os nossos exames de graduação de 5ºdan e de 4ºdan no caso do meu aluno chileno Gabriel.

Durante os primeiros dias de turismo em Seul, visitamos alguns museus e mercados locais de modo a percebemos melhor a cultura coreana.

Chegou então o dia de nos dirigirmos até à sede da KHF e reencontrar todos os participantes não coreanos que iriam estar presentes no curso de mestres. É sempre agradável revermos amigos e mestres de vários países que ao longo destes anos vão fazendo parte do nosso caminho e amizade.

Rumamos de autocarro até à cidade de Kyungun, a cerca de 400kms de distância, cidade essa conhecida pela sua tradição nas artes marciais coreanas e onde está situado o centro oficial de treino da KHF.

Chegados ao centro de treino, deparamo-nos com o que já nos era familiar, um sítio de sonho, isolado, rodeado de montanhas e com toda a logística adequada para os seus visitantes. No quarto que me foi atribuído, ficaram também os meus dois alunos chilenos de modo a que pudéssemos estar mais confortáveis.

São 05:30 e já é hora de nos levantarmos.

Começamos a ouvir vários colegas a falar vários idiomas, enquanto nos dirigimos para o exterior para se realizar a primeira corrida matinal. Inicia-se então mais um Curso Oficial de Mestre que durante vários dias vai ter como rotina, as corridas matinais, as longas horas de treino prático no dojang e as reuniões ao final do dia para se tirar duvidas técnicas e confraternização com outros colegas.

Após vários dias de formação chega então o dia para o qual me tinha preparado durante meses a praticar técnicas e técnicas para a minha candidatura a 5ºdan. De cerca de 100 participante neste curso dividido entre coreanos e não coreanos, apenas 6 dos estrangeiros se submeteram a exame de graduação perante um exigente júri constituído por grão-mestres coreanos.

Inicia-se então a sessão de exames onde colegas com uma graduação mais baixa do que a minha fazem o seu exame de graduação.

Eu permaneço atento a todo o rigor técnico que lhes é pedido e imaginando como será para o meu exame. O meu aluno chileno Gabriel candidato a 4ºdan embora nervoso realiza um bom exame, motivo pelo qual me deixa orgulhoso por ter conseguido passar-lhe todo o meu conhecimento ao longo dos anos.

Chega então o meu momento, momento aquele para o qual me tinha preparado e atravessado meio mundo em viagem. Recordei os rostos dos meus alunos de Portugal, Brasil e Chile que me desejaram boa sorte anteriormente e que estavam comigo em pensamento. Longos minutos se sucederam onde grão-mestres coreanos me pediram para realizar o programa técnico, sem darem margem para erro.

O final do exame chega finalmente, com ele o baixar da adrenalina e com a sensação de ter sido bem-sucedido, até porque falhar não era uma opção para mim. O resultado viria a ser divulgado no dia seguinte após a entrega dos certificados de participação no Curso e a confirmação que tinha passado no meu exame, para 5ºdan de Hapkido, com especial sabor de ter sido realizado na Coreia e perante um júri rigoroso de grão-mestres.

O momento particularmente importante foi o almoço privado com caráter de reunião com o presidente da KHF que reuniu um pequeno grupo de diretores oficiais da KHF de vários países onde se debateram projetos relacionados com o Hapkido KHF a nível internacional.

Após o término de mais um curso de mestres é altura de voltarmos a Seul e planearmos mais uns dias de treino em algumas das melhores escolas de Hapkido ali existentes.

Os nossos últimos dias em Seul dividiam-se se entre levantar cedo de manhã para fazer um pouco de turismo, ver museus, mercados e monumentos nacionais e as tardes eram destinadas para treinos mais privados com mestres de grande referência.

Quando damos por nós já estamos novamente no aeroporto para regressarmos aos nossos países.

Foi com um enorme orgulho que levei para este curso dois alunos chilenos Gabriel e Jayme onde um deles se candidatou a 4ºdan tendo finalizado com sucesso e assim ser oficialmente certificado como mestre de Hapkido da KHF. O que me tornou Mestre de Mestres de Hapkido da KHF.

Hapki!


O Capitão

Mais uma vez estou de regresso à Casa Mãe do Hapkido na Coreia do Sul. Mas esta visita é especial. Estou acompanhado da minha equipa que contempla instrutores de três países, Portugal, Brasil e Chile. A viajarem de vários pontos do Mundo o encontro foi marcado na Cidade de Seul.

Após dois voos perdidos e muitas horas de voo finalmente estamos todos juntos e prontos para as duas semanas de treino intensivo de Hapkido.

Segue-se então mais uma viagem com de cerca de 200 kms de Seul até à cidade de Jecheon no interior do país. Aqui somos recebidos pelo Grão Mestre Ju Ung Seo, que será durante as próximas duas semanas o Prelector principal do Seminário Anual que decorrerá na pequena aldeia de Dokdong onde está situado o nosso alojamento para as próximas semanas de treino. Longe da civilização e dos ruídos citadinos, rodeados por montanhas estamos envolvidos em toda a mística que qualquer praticante de Hapkido sonha.

Entretanto outros instrutores de vários países vão chegando e é altura de rever e conhecer novos amigos.

Os dias de treino começam pelas 08h00 com o pequeno-almoço em família e já com comida coreana. É incrível a quantidade de idiomas que se fazem ouvir no refeitório.

De seguida temos a primeira fase de formação no interior do Dojang e que ocupa toda a manhã.

pós o almoço temos uma pequena pausa onde se aproveita para trocar impressões e tentar saber como se está a desenvolver o Hapkido em outros países que não o nosso. Retomamos então a formação que desta vez é nas montanhas no interior de um Parque Natural e que dura até ao final da tarde.

“Aguentar, aguentar” é a expressão que se ouve, onde o desgaste físico e o calor fazem com que todos tenham um espírito de sacrifício afinado.

Finalmente chega a hora de jantar e o nosso momento de descanso merecido, que é utilizado para comunicar com as nossas famílias ou então colocar fotos nas redes sociais onde os nossos alunos que estão na outra parte do mundo anseiam ver.

Entretanto um divertido colega italiano ao ver-me sentado e reunido com toda a minha equipa de instrutores de Portugal, do Brasil e Chile afirma "Hey Capitano Emanuel, és um bom líder, pois consegues juntar e trazer à Coreia pessoas de três países e culturas diferentes. Bravo".

Após três dias de treino, ao acordar de manhã sinto que algo está errado com o meu corpo. Inicia-se aqui um verdeiro pesadelo que iria durar vários dias. Ao longo do dia o meu estado de saúde agrava-se, pautado por fortes dores, cansaço e vómitos o que faz com que tenha de ser evacuado para o Posto de Saúde mais próximo.

Já no Posto Médico e após ser avaliado pelos médicos sou imediatamente transferido para um Hospital central na cidade mais próxima devido aos sintomas estarem cada vez mais fortes. Fico então hospitalizado durante 4 dias e ligado à máquinas para tratar uma Virose que me foi diagnosticada. Foram 4 dias quase sem dormir, com dores e onde ninguém falava o meu idioma. Os médicos e enfermeiros Coreanos foram muito atenciosos e sempre preocupados com o meu estado. A lealdade dos meus alunos que sempre estiveram comigo naquele momento difícil é de um agradecimento enorme.

No entanto todos os alunos continuaram os seus treinos por vontade minha enquanto eu permaneci no Hospital e assim aproveitaram todo o sacrifício que fizeram nas suas vidas pessoais para poderem estar ali na Coreia.

Finalmente chega o tão desejado dia de sair do Hospital. Embora ainda debilitado, mas pronto para aproveitar ao máximo o que resta da nossa estadia. Seguiram-se então dias de descanso merecido. Aproveitamos para fazer turismo e conhecermos um pouco mais da cultura Coreana. Visitamos Museus, Templos, Montanhas e construímos memórias que ocuparam os nossos últimos três dias desta fantástica jornada.

É agora tempo de todos nós regressarmos aos nossos países, com mais experiências novas no nosso currículo e a fazer já planos para o próximo regresso à Coreia.


Esta viagem tinha como objectivo a participação no prestigiado Master Course da The Korea Hapkido Federation, que seria pela primeira vez frequentado por um português em territorio coreano. Ao chegar mais uma vez a Incheon, de imediato tudo me parece familiar, no entanto há que rumar em direcção a Seul. Chegado a Seul já tinha à minha espera, nada mais nada menos do que, o actual director da KHF GM Soon Book Bae, pertencente também à minha familia Eul Ji Kwan, um verdadeiro mestre!

Partimos então em direcção às instalações da KHF, local no qual mais uma vez foi agradável entrar e sentir que é onde tudo se decide. Durante alguns dias tive a honra de acompanhar o GM Sun Book Bae nas suas visitas a autênticas lendas do hapkido KHF para algumas reuniões.

Uma das primeiras visitas foi a um lendário dojang, o do Grão-Mestre Na In Dong da família In Moo Kwan, que logo na entrada, na zona recepção de visitantes, me surpreendeu com algumas fotos do líder da Líbia, Khadafi e vários artefactos escritos em árabe. Após alguns minutos de conversa ficou resolvido tal mistério: o mestre Na In Dong foi durante muitos anos instrutor de alguns dos guarda-costas de Khadafi.

Uma segunda visita, e não menos importante, foi a do dojang do GM Kim Nam Jae, protagonista da série televisiva Fight Quest Hapkido. No interior do seu dojang sentia-se e respirava-se Hapkido de todas as formas. Tive ainda a sorte enorme de ter recebido um exemplar, autografado pelo próprio GM Kim Nam Jae, do seu livro publicado e editado recentemente. Cinco estrelas!! Sorte foi também poder treinar com o actual capitão da equipa de demonstração oficial da KHF Mestre Kim que também ele pertence à família Eul Ji Kwan e cujo dojang se localiza em frente ao hotel onde eu estava instalado. Nos dias anteriores ao curso, o dojang recebeu vários elementos da Rússia que treinaram connosco e seguiram também para o curso.

Chega então o dia de partirmos em direcção a Kyungun, localidade situada a cerca de 400 kms a sul de Seul. Enquanto fazíamos a viagem de automóvel tive a oportunidade de ter uma conversa simplesmente incrível, focada no Hapkido, em que fui descobrindo antigas histórias, e sabendo mais sobre várias personalidades marcantes da nossa arte.

Chegados ao local, deparei-me com um cenário que não podia ser mais mistico, uma propriedade privada e situada no meio de altas montanhas. Esta mesma infraestrutura tinha sido inaugurada em 2013 com o anterior Master Course, e tudo tinha sido devidamente pensado para termos umas boas condições de treino e comodidade. Um silêncio total, um mega dojang, um edifício com quartos para cerca de 100 hóspedes, refeitório, sala de aulas e wireless, tudo isto rodeado por altas e verdejantes montanhas. Aos poucos os candidatos foram chegando, começaram a ouvir-se vários idiomas. No primeiro briefing foram-nos dadas as boas vindas e fornecido algum material de apoio referente ao curso.

O curso iniciava às 06:00 com uma corrida matinal em dobok e sem pequeno almoço, a fazer lembrar os nossos tempos de serviço militar. Éramos organizados em dois pelotões e os instrutores acompanhavam-nos, nunca deixando ninguém quebrar a formação inicial. Na frente a marcar a cadência com a sua voz e postura militar, um instrutor em excelente forma física!. Fomos percorrendo as estradas de montanha e das aldeias que iam aparecendo pelo caminho, aos poucos alguns participantes iam ficando para trás. Ao meu lado tinha como companheiros um americano a cumprir serviço militar em Seul e um argentino; mantivemos o nosso trio chegando mesmo a pedir para acelerarem a passada, viva a boa disposição, dureza! Após a corrida matinal seguia-se o pequeno almoço e logo de seguida iniciavam-se as aulas até cerca das 19/20:00.

As aulas englobaram/abordaram várias temáticas desde a história, ética, técnicas de hapkido, primeiros socorros no dojang; quase todos os professores do curso eram senior masters, ou seja, eram a "velha guarda" da KHF quase todos entre os 65 a 75 anos de idade. Estes Mestres demonstraram uma técnica e energia incríveis, incluíndo o próprio presidente da KHF, Oh Se Lim, que também foi professor neste curso. E assim foram passando os dias com algumas dores nos pulsos e articulações, até que surge o último e cruel dia de curso. Chegados ao local, deparei-me com um cenário que não podia ser mais mistico, uma propriedade privada e situada no meio de altas montanhas.

Somos, então, numerados por parelhas e teremos que demonstrar em frente a um júri algumas técnicas propostas por eles para avaliação. Passada a avaliação com êxito, vamos, então, para o anfiteatro onde foi ministrada uma aula, por alguns dos prelectores deste curso, e de seguida, recebermos os certificados de finalizaçãoo do master course das mãos dos prelectores. Foi para mim uma grande honra receber o certificado diretamente das mãos do presidente da KHF, Oh Se Lim , uma lenda viva no hapkido tradicional.

Após a despedida dos nossos colegas de curso restava-me uma longa viagem de quase 400kms até Jecheon afim de me encontrar com o Mestre Ju onde iria ficar a treinar até ao final da minha jornada. O reencontro com o Mestre Ju é sempre emotivo.. Seguiram-se dias de revisão do programa técnico e desenvolvimento de planos futuros!

Nota final: sinto-me orgulhoso de ser o primeiro português a realizar este prestigiado curso em solo coreano! Tenho a agradecer a minha mulher pelo meu tempo de ausência, aos meus alunos por me seguirem ao longo deste percurso e aos meus amigos pela motivação que me têm dado.


Aquando das viagens para a Coreia certos mestres partilharam comigo, por diversas ocasiões, recordações suas de Hong Kong. Após o contacto com o mestre local de Hapkido KHF, o Mestre Kim, e toda a curiosidade que surgiu do que relatavam os mestres, acabei por ser levado até essa pérola no oriente.

Hong Kong, é nada mais nada menos que a cidade das artes marciais, que durante os anos 70 foi palco de dezenas de filmes, incluindo o filme Hapkido de 1972 com Jackie Chan, Angela Mao, Samo Hung e o nosso mestre amigo Hwang In Shik. Todos estes chegaram , de facto, a aprender técnicas de Hapkido em Hong Kong com o mestre Jin Pal Kim de modo a aperfeiçoarem as suas aptidões que eram, basicamente, trabalho de ópera chinesa.

Hong Kong é um pequeno território pertencente à China. O seu clima é esmagadoramente diferente do europeu, muito quente e húmido, ao ponto de por vezes se ter dificuldade em manter os olhos abertos para a apreciar. Possui montanhas e praias, campo e cidade com prédios enormes que arranham o céu. Local obrigatório de visita é o Victoria Peak, um ponto alto de Hong Kong, que é a imagem de abertura do filme Blood Sport cujo protagonista é o actor Jean Claude Van Damme que nos anos 80 marcou toda uma geração de praticantes de artes marciais. Um pequeno funicular através de subidas muito íngremes conduz-nos vagarosamente até ao topo e lá de cima espera-nos uma vista maravilhosa e abrangente de todo o território.

A península de Kowloon é o local onde se filmou grande parte do dito, filme entre labirintos de prédios que nos fazem perder o sentido de orientação. Seria impensável ir a Hong Kong e a esta região - Kowloon e não visitar a casa do "Rei" das artes marciais - Bruce Lee.A sua casa é, actualmente, um pequeno motel cujo governo infelizmente ainda não foi capaz de chegar a acordo para tornar num museu da sua vida e obra. Encontram-se ainda neste pedaço do território hóteis enormes de renome e a "Avenue of Stars", uma área de terra ganha sobre o mar, onde se situa uma estátua em sua memória de que faz a delícia de todos os turistas. Pudemos ainda maravilhar-nos com O Mestre Kim, que é coreano mas vive em Hong Kong há mais de uma década e dirige várias escolas de Hapkido e Taekwondo.A sua qualidade técnica é simplesmente excelente, e o facto de treinar em várias escolas proporcionou-me a oportunidade de treinar com várias turmas em diferentes locais de Hong Kong.

Nas deslocações para os diferentes dojangs pude observar algo que achei bastante interessante: nos jardins públicos, ao ar livre, pequenos grupos de pessoas praticavam Wing Chun, a arte marcial local. O facto de Hong Kong ser uma ex-colónia inglesa, fazendo com que uma boa parte da população falasse inglês, tornou esta experiência muito agradável, por ser possível comunicar e deslocar-se facilmente aos locais pretendidos.

Houve ainda tempo de visitar os templos em Hong Kong, que eram muito coloridos e onde abundavam as talhas douradas,as figuras míticas dos dragões, as oferendas de fruta e os incensos que queimavam e nos envolviam numa bruma que baralhava os nossos sentidos. De todo o tempo de treino houve um descanso de três dias que deu para ir conhecer Macau e ver o que ainda resta da presença portuguesa.


De malas aviadas, no limite de peso, e com a ansiedade a aumentar, deparámo-nos com o primeiro treino, ainda a muitos quilómetros de distância da terra prometida - o voo: 15 horas para Seoul! Estou de regresso à Coreia, mas desta vez com alunos.

Chegados a Seoul, decidimos ficar cerca de 4 dias para fazermos um pouco de turismo e conhecermos mais sobre a cultura coreana através dos museus existentes naquela cidade. A visita que mais nos marcou talvez tenha sido a ida à Zona Desmilitarizada ou DMZ, ou seja, ao famoso Paralelo 38 onde forças militares Norte Coreanas, Sul Coreanas e Americanas medem tensões há mais de 50 anos. É uma zona muito controlada com imensos check-points e sempre vigiada por câmaras e militares armados. O primeiro local para onde nos dirigimos foi o observatório onde pudemos ver de perto campos minados ainda existentes, e através da vedação ver as habitações da Coreia do Norte.

Impressionante foi ainda a visita aos túneis construídos pelos norte-coreanos com o propósito de invadir a Coreia do sul. São, mais precisamente 4 túneis que foram sendo descobertos ao longo dos anos, já muito depois da guerra da Coreia ter terminado. Existirão mais por descobrir? Essa questão ainda permanece. Ainda na DMZ visitámos também a Dorasan Station, uma estação de comboios que foi construída para ligar Seoul a Pyongyang mas que apenas foi utilizada uma vez a nível experimental, pois o governo norte-coreano cancelou o acordo prévio da troca de mercadorias por essa estação. A estação está muito bem equipada mas permanece vazia ao longo destes anos na esperança de um dia voltar a poder ser utilizada.

De volta ao centro de Seoul, visitámos o War Memorial Museum; sediado num edifício gigantesco que faz as delícias de todos os interessados pela arte da guerra, pois relata todas as batalhas do povo coreano desde os tempo mais antigos até à actualidade. No seu interior e exterior existem dezenas de aeronaves, carros de combate e até mísseis. Um pouco mais na periferia visitámos o Museu do Bonsai com os seus belos exemplares, que também deliciou a nossa comitiva que já vem tendo um elo de ligação com a arte de bonsai através de vários workshops que se vão realizando na cidade do porto.

Foi tempo também de visitar a Kukkiwon, sede mundial do Taekwondo; uma nobre arte que durante muitos anos foi a nossa arte de treino mas que agora se vê mais virada para a vertente desportiva tendo o seu cariz marcial sido perdido gradualmente! Fomos muito bem recebidos na Kukkiwon pelas entidades com uma pequena reunião ao sabor de chá coreano para esclarecer dúvidas ao que se seguiu uma visita guiada pelo museu do Taekwondo. É chegada a altura de irmos para a cidade de Jecheon a 180kms de Seoul onde fomos recebidos pelos nossos Mestres e nos dirigimos, então, para o nosso acampamento - na zona do parque na natural de Dokdong, especificamente feito para receber hapkidocas de todo o mundo - Eul Ji Kwan Camp.

Uma vez chegados ao acampamento, encontrámos colegas de treino do Canadá e França que já estavam à nossa espera. Nos tempos livres pudemos realizar algumas actividades culinárias coreanas como fazer doces tradicionais. Numa pausa dos treinos, visitámos a cidade de Chungju palco do festival anual de artes marciais onde pudemos presenciar várias artes marciais de todo o mundo em exibição, sendo um dos momentos altos a demonstração por uma unidade militar americana.

O nosso mestre prelector - Mestre Ju, 7º Dan de Hapkido e 6º Dan de Taekgyon, realizou ainda durante a nossa estadia, uma demonstração de Taekgyon numa escola onde estiveram também presentes várias outras artes. Os treinos no acampamento decorreram dentro da normalidade que já vem sendo hábito, ou seja alternando entre treinos na montanha e no dojang.

O ponto alto desta viagem foi a possibilidade de durante cerca de duas semanas podermos estar diariamente no nosso acampamento na presença do Grão-Mestre Hwang in Shik, actualmente a viver em Toronto, mas que como membro da Eul Ji Kwan KHF, veio à Coreia nesta data específica para dar seminários e visitar velhos amigos como o Grão-Mestre Jong An Se, 9º Dan e nosso director técnico, que também nos acompanhou.

O Grão-Mestre Hwang In Shik é considerado o melhor "pontapeador" de Hapkido de todos os tempos, tendo participado em diversos filmes, de entre os quais se destaca o filme "Hapkido", e ainda contracenado com Jackie Chan entre outros famosos actores. O bom trabalho que se tem desenvolvido na nossa escola de Hapkido leva os alunos mais novos a quererem algo mais dando continuidade à tradição na arte do Hapkido.

Portanto todo o mérito desta viagem deve ser atribuído aos três alunos que se deslocaram até à Coreia!


Após ter estado no Verão passado na Coreia com um calor abrasador era chegada a hora de experimentar o rigoroso Inverno. Chegado a Incheon, os termómetros marcavam 3 graus negativos durante o dia e havia neve por todo o lado.

A aguardar-me no aeroporto, encontrava-se já um mestre de Hapkido/Kendo, o qual me levou até Seoul para fazermos compras numa loja de Kendo como já tinha acontecido na última viagem.

Visitámos o dojang de um mestre da nossa Família aonde mais uma vez nos deliciámos com uma bela conversa em volta do Hapkido sempre ao sabor de chá tradicional coreano. Rumámos então em direcção ao dojang na cidade de Jecheon aonde iria ficar durante os próximos dias.

Os dias foram passados entre treinos de manhã e à tarde e, durante a noite, as temperaturas chegavam a baixar até aos 12 graus negativos. Mais uma vez foi altura de aprender novas técnicas e de aperfeiçoar outras. E como opinião pessoal mais uma vez afirmo que só se consegue evoluir correctamente no Hapkido quando se faz formação no local certo e com os mestres certos, na Coreia!

Num final de tarde apareceram no dojang alguns militares para receberem formação na área de Taekkyon*, uma vez que além de Hapkido, o Mestre é um dos principais representantes da Federação Coreana de Taekkyon.

No dia seguinte, de manhã cedo, fomos à Federação Mundial de Taekkyon na localidade de Chung-ju porque o mestre foi recebido pelo seu Grão-Mestre de Taekkyon e actual vice-presidente o qual fez as honras da casa mostrando-me todo o belo edifício e o dojang oficial onde acontecem os exames de graduação.

Após a visita rumámos em direcção a sul (300kms) para bem perto da cidade de Daegu, cidade onde se encontra sepultado o fundador do Hapkido. Nessa noite, o mestre iria participar num pequeno festival de artes marciais tradicionais coreanas onde iria demonstrar Taekkyon juntamente com mais dois seus instrutores.

No final da demonstração houve lugar para confratenizar e se deliciar com comida tipicamente coreana. Ainda pudemos ouvir música tradicional coreana bem como dar alguns passos de dança.

Um ponto alto desta viagem foi visitar o grande templo budista de Haeinsa que se situa numa montanha e onde se guardam antigas informações budistas Tripitaka Koreana gravadas em tábuas de madeira. Os monges são muitos simpáticos e ficam sempre muito surpreendidos como as pessoas da Europa que se deslocam até aquela localidade. Para o efeito tem um pequeno edifico onde quem quiser pode ficar albergado durante uns dias para melhor entender a sua religião.

Em redor do templo os seus edifícios eram simplesmente extraordinários além de muito bem conservados, sempre com telhados coloridos e com figuras demoníacas para afastar o mal. Nos jardins predominava a neve, um nevoeiro mágico e grandes árvores tais como Acers, Zelkovas, Pinus Densiflora.

Um grande privilégio foi poder visitar novamente o comando da polícia de Jecheon e poder participar na aula dada pelo mestre aos agentes. O Grão-Mestre 9 dan mais uma vez nos deu a honra de comparecer no dojang para nos treinar e no final entregar o diploma de graduação referente ao exame feito na última viagem.

Sendo esta oportunidade algo de exclusivo e único há que aproveitar para fazer perguntas ao Grão-Mestre sobre assuntos que não vêm nos livros e que nos ajudam a completar a nossa enciclopédia pessoal. E como não se pode desperdiçar o pouco tempo livre que se tem na Coreia, desta vez fomos para a cidade de Taebek experimentar Ski num excelente resort. A comida coreana continua a ser mais um treino difícil (picante) mas é de uma excelente variedade, especialmente de condimentos que nos fazem muito bem à saúde.

Revelou-se, novamente, uma experiência enriquecedora quer a nível pessoal quer a nível marcial.

Até Setembro,

Hapkiii!!

* Taekkyon - arte marcial coreana, tesouro nacional nº 76, que viria a influenciar na criação do Taekwondo.


Este pequeno artigo relata a viagem de três semanas, de dois instrutores europeus de Hapkido tradicional até ao país natal desta arte, a Coreia. Assim que aterrámos em Incheon Seoul sentimos logo de imediato toda uma mística em volta do treino duro que iríamos encontrar nos próximos dias.

Após a longa viagem de cerca de 14h que nos trouxe até à capital coreana, esperavam-nos ainda cerca de 180kms de carro até uma aldeia perdida nas verdejantes e silenciosas montanhas. Ali apenas existe um riacho rodeado de casas de arquitectura tradicional coreana e uns pré-fabricados em madeira criados para receberem anualmente instrutores.

Os dias começavam cedo com um pequeno-almoço tradicional coreano (arroz, carne, vegetais) e logo de seguida se iniciava a caminhada até à montanha, com passagem pelo templo budista da aldeia, sempre sob a orientação do Mestre Ju Eung Seo, 7ºdan Eul Ji Kwan / 6ºdan Taekyon, sempre em excelente forma física e protagonista do programa "Fight Quest" episódio "Hapkido". Dava-se então início ao treino matinal de condição física com corrida e exercícios de trabalho de respiração no final.

Seguia-se depois a parte técnica específica daquele dia, e já com cerca de 4 horas de treino voltávamos a descer em direcção a aldeia para recebermos o merecido almoço. Após uma breve pausa a seguir ao almoço seguíamos para o dojang situado nos pré-fabricados e voltávamos a mais uma sessão de treino específico que iria durar cerca de 4 horas.

Chegava então a hora de jantar e mais uma vez éramos deliciados com a gastronomia coreana sempre muito picante e que como um dos mestres coreanos dizia "era mais um treino para nós". Chegada a hora de dormir, já o corpo não respondia a qualquer estímulo tal era o cansaço físico, mas com o espírito cheio de emoções, dormíamos no chão do dojang.

E assim sempre a este ritmo se foram passando alguns dias até que fomos visitados por um Grão-Mestre 9ºdan de Hapkido Eul Ji Kwan da The Korea Hapkido Federation, aluno do fundador do Hapkido, que veio ministrar-nos instrução durante alguns dias e verificar se o nosso trabalho estava a ser bem realizado.

É simplesmente inacreditável como uma pessoa de 73 anos consegue ser tão ágil nos seus movimentos e possuir tanta sabedoria. Além da parte técnica que nos transmitiu, também tivemos a sorte de poder ficar a conhecer muito mais sobre esta arte e algumas das velhas histórias que não constam nos livros.

Chega então um dos dias mais esperados o "dia de folga". Rumámos em direcção a Seoul para conhecermos e nos encontrarmos com alguns dirigentes da Federação Mundial. Após a chegada ao local fomos contemplados com um edifício enorme de arquitectura tradicional e que no seu interior tinha um museu. Acompanhados então por alguns mestres visitámos vários dojangs de grão-mestres de Hapkido Eul Ji Kwan que ensinam em Seoul, e que sempre nos receberam de coração aberto e prontos a deliciar-nos com chá coreano.

Houve ainda tempo para no centro de Seoul se fazerem umas pequenas compras em casas de comércio tradicional, e pela primeira vez pudemos fazer uma rápida visita a um ciber café para poder enviar emails para os nossos alunos e família. Já à noite e de regresso à pequena aldeia perdida nas montanhas, o nosso pensamento se fixava no dia seguinte, em que iríamos retomar os treinos.

Após mais uns dias de treino na aldeia fomos transferidos para uma cidade nas redondezas onde os horários de treino se mantinham mas agora treinávamos em turma acompanhados por alunos e instrutores coreanos.

Quando demos fé já só restavam dois dias até ao nosso regresso a Portugal e a França, que foram ocupados com visitas a locais de cultura coreana, bem como a uma recepção protocolar por parte do Mayor da cidade no seu City Hall, que muito se impressionou com o nosso interesse no estudo do Hapkido e pela nossa estadia e que nos brindou com um almoço num excelente restaurante típico coreano onde nos foi servida comida medicinal coreana.

Foi tambem um grande privilégio poder visitar o Comando da Policia de Jecheon atraves dum oficial de Polícia tambem ele instrutor de artes marciais, que fez as honras da casa e que no final me deu a honra de visitar um departamento muito especial o CSI.

Como resumo final desta jornada resta dizer que o Oriente ainda é o local místico e cheio de energia positiva para todos os praticantes de artes marciais e que todos os Instrutores e Mestres deveriam lá ir para melhor compreensão.